Fotografando em tempos de pandemia
De colorido para preto e branco. Das máquinas digitais para as de filme com no máximo de 36 poses. Parece até que o tempo deu uma parada. Foi assim que muitos fotógrafos provavelmente se sentiram durante a pandemia do coronavírus. Festas, casamentos, ensaios desmarcados em cima da hora. Assim, a necessidade de se reinventar – palavra muito usada em 2020 – nunca foi tão importante como agora.
“Quando surgiram rumores de isolamento social, estava negociando alguns casamentos. Mas como as coisas foram piorando e vieram os decretos, os clientes acabaram não fechando. Fora isso, tinha mais cinco com contrato assinado. Desses, dois foram cancelados e não tenho noção de quando serão realizados. Os outros tivemos que remanejar as datas. Sem contar aniversários e outros eventos”, enumerou o fotógrafo Bruno César.
O impacto no orçamento foi grande. “Minha organização é mensal. Sei quais meses são bons, fracos, excelentes ou medianos. Mas com a pandemia, achei que não conseguiria bater as metas. Vi muitos fotógrafos parados, principalmente os que trabalham só com casamento. Após sentar e fazer uma análise do cenário, minha solução foi investir em ensaios, já que não havia previsão de normalização dos eventos. A urgência do mercado foi o ensaio de gestantes. Não dava para esperar a pandemia passar porque elas precisavam fazer o ensaio. Foi o que salvou a parte financeira. Um ramo que inclusive eu cresci”, analisou.
Mas até voltar ao ritmo de trabalho investindo no ramo das gestantes, os percalços foram diversos. “O primeiro desafio foi remanejar as datas. Geralmente, a cerimonialista e a noiva me passaram novas datas e eu precisei verificar se estava livre. Já elas, tinham que entrar em contato com todos outros fornecedores para ver se as datas conciliavam. Foi um ping pong difícil de superar, bem estressante para todos. Algumas desmarcaram bem próximo à nova data, o que foi horrível para mim porque deixei de pegar outros serviços. Passei por isso algumas vezes e não foi nada fácil”, lamentou Bruno.
Outro desafio foi lidar com as medidas de prevenção ao contágio da Covid-19. “Troco de máscara a cada duas horas. Uso muito álcool em gel para pegar em tudo. Evito até comer em buffets. Levo minha própria garrafinha de água”, enumerou Bruno. Apesar disso, ele conta que tem observado em alguns eventos desrespeito quanto às orientações das autoridades sanitárias. “Muitas pessoas chegam ao evento de máscara, mas depois tiram para comer, conversar e não colocam mais. Inclusive vi cerimonialistas desabafando sobre isso. Que cobraram atitudes passadas pela própria noiva e que acabam não sendo respeitadas”.
O fato é que, apesar do início da vacinação, a pandemia ainda não acabou e muita gente que adiou planos em 2020 agora precisa redefinir datas. “O que eu digo para essas pessoas é que não desistam dos seus sonhos. Estamos vivendo um período de adaptações, tanto os noivos quando nós fornecedores. Se você quiser realizar de qualquer jeito agora, é necessário abrir a cabeça para reajustes. Por exemplo, se a ideia inicial era convidar 300 pessoas, o plano B deve ser fazer a festa com 30”, orientou Bruno.
Ele sugeriu aos casais que ainda não puderam realizar cerimônia e festa, que façam um ensaio. “Ainda não voltamos ao ritmo ao qual estávamos acostumados. Muita gente continua trabalhando em casa. E os casais tendo a oportunidade de ficarem mais tempo juntos. Então, o que pode ser feito? Um ensaio registrando a rotina do casal, em casa mesmo. Ou em um lugar aberto, como parque, praia e chácara. O resultado é muito bacana também”, propôs.
Texto: Janaína Cruz (DRT 857/SE)